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terça-feira, agosto 13, 2013

Os cachorros do Barsa

Por Barsanulfo Pereira

Muita gente conhece o Barsa no município de Abadia de Goiás, na Chácara São Vicente de Paula, Quinta dos Sonhos, onde moro há quase 20 anos e me relaciono amistosamente com os moradores do município. Lugar ideal para aposentados como eu que não tenho compromisso com atividades sistematizadas e obrigatórias. Não sei por que carga d'água eu vim parar aqui. Só sei que, parodiando Júlio César à margem do Rubicão, Vim, Vi, Amei e fiquei.
Aqui vivo com minha atual esposa, Helena, que não é de Troia, cuja pequena estatura me inspirou a apelidá-la carinhosamente por Peketita, enquanto que Barsa é vocativo reduzido de meu prenome Barsanulfo, que eu mesmo, propositalmente, impusera para facilitar o entendimento da “complicada” origem pouco conhecida de meu nome e, ao mesmo tempo, evitar sua explicação repetida e incômoda.
Nunca imaginara que um dia viesse a morar em Abadia de Goiás, embora conhecesse o local há muitos anos, desde quando ainda era um bairro distante no município de Goiânia, administrado por uma subprefeitura.
Em 1994, aposentado do serviço público federal e como professor universitário, sem perspectiva futura, vim morar definitivamente na chácara, me isolando em completo ostracismo em relação à Capital, onde vivia desde 1950.
Aqui assisti sua emancipação político-administrativa e, como um de seus primeiros eleitores com Título transferido, embora nunca pertencendo a nenhum partido político, porém entusiasmado pelo nascimento de uma possível administração competente e virgem de vícios históricos, coloquei à disposição dos políticos locais meu currículo com dossiê e experiência em diversas áreas do serviço público.
Não interessaram, pois deviam ter pensado que eu teria experiência demais para o gosto dos que se apossaram do nascituro município. Não toquei mais no assunto, permanecendo aqui ao lado, observando seus erros e acertos, pois eu fora requisitado para atividades em entidade associativa de âmbito nacional.
Agora assistimos novamente, em todas as capitais e municípios, a corrida competitiva em busca da permanência, ou da ascensão ao poder, corrida esta em que o lícito e o ilícito são empregados, como no aforismo de que o fim justifica os meios.
Isso me faz lembrar uma cadela que, na época certa, entra no cio e pelo seu cheiro e poder da força reprodutiva atrai pretendentes que se digladiam numa disputa em que o vale tudo é o método principal e, em comparação com as atuais disputas políticas, não importando os arranhões éticos e morais que caracterizam esses tipos de competições.
Lembra-me também meu cachorro, o Marley, de porte médio, que, ao sentir o cheiro da cadela do vizinho, resolveu disputá-la com os concorrentes mais poderosos, numa luta desigual em que, literalmente, levou o dono da cadela a dar-lhe um pontapé no escroto, além das mordidas dos outros cachorros maiores.
O mesmo, tempos atrás, aconteceu com outro meu cachorro, o Valente, que acabou quebrando o rabo durante suas farras na disputa de uma fêmea.
Em 2012, as eleições gerais nos municípios vêm aí, moçada, e quem quiser se habilitar a concorrer, com fichas limpas, ou sujas, cachoeiras e cascatas e tudo mais permitido pela Lei Eleitoral vigente, pode começar desde já afrouxando os nós das gravatas e colocando seus paletós nos guarda-roupas; vestir camisas xadrezes de mangas curtas, combinando com uma calça surrada, tênis barato e sapatos desgastados; mude o linguajar formal do político de gabinete para a informalidade da linguagem popular e... mãos à obra.
Nas capitais e nas cidades de maior porte, os focos eleitorais são os bairros, onde não se deve deixar de levar alguns trocados, fígado e estômago preparados, para pagar e beber juntos alguns tragos com os “companheiros e companheiras” eleitores.
Não se esqueça das galinhadas! E... Boa sorte para quem tiver maior “Mensalão” e poder de convencimento. Muitas vezes um presentinho simples camuflando uma ingênua notinha de R$ 50 é uma boa lembrança.
A cadela está no cio e meus cachorros já perceberam!
(Barsanulfo Pereira Gomes, membro emérito da Loja Maçônica Liberdade e União, do Grande Oriente do Estado de Goiás; e-mail: barsagomes@hotmail.com)

Fonte: Diário da Manhã

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